17.11.08

Palavras que o vento não leva


"(...) E nós? Falamos pela mesma razão que transpiramos? Apenas porque sim? O suor evapora-se, lava-se, desaparece, mais tarde ou mais cedo chegará às nuvens. E as palavras? Aonde vão? Quantas permanecem? Por quanto tempo? E, finalmente, para quê? São perguntas ociosas, bem o sei, próprias de quem cumpre 86 anos. Ou talvez não tão ociosas assim se penso que meu avô Jerónimo, nas suas últimas horas, se foi despedir das árvores que havia plantado, abraçando-as e chorando porque sabia que não voltaria a vê-las. (...)"

José Saramago, 86 anos

8 comentários:

  1. Embora na sua globalidade, Saramago não seja para mim um escritor superlativo, tenho que reconhecer-lhe alguns textos extremamente felizes...
    Abraço.

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  2. Também gostei. Às vezes penso numa velhice feliz como aquela em que as pessoas se soltam das coisas sem mágoa (deve ser por isso que gosto tanto daquela última canção em que se ouvem as cotovias cada vez mais longe). Para um escritor deve ser muito difícil desprender-se das palavras...

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  3. Um magnífico escritor! Desejo-lhe muitos e longos anos de escrita!

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  4. É curioso que hoje, na minha ronda pelos blogs amigos aproveitando tempo disponível, fui encontrar o texto que Saramago escreveu a respeito da sua avó.. e aqui fui encontrar a referência ao seu avô Jerónimo. Conhecia estas duas figuras desde que ouvi uma entrevista de Saramago na Rádio, há uns anos atrás. Muito interessante estas leituras que nos deixam depois perdidos numa série de reflexões.
    Um grande beijinho

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  5. Lindo, Paulo.
    Saramago é um grande escritor. Mesmo quando fala das suas memórias há uma pitada de filosofia poética.

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  6. Anónimo20.11.08

    se vivesse numa casucha assim, seria a mim quem o vento não levaria.

    joselito el cantante

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  7. Pudesse ter eu a mesma clarividência (e tempo) para me despedir de "todas" as árvores, tal como o avô Jerónimo, quando a minha altura chegar...

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  8. Anónimo23.11.08

    É um aflorar subtil, belo e poético, de um futuro desaparecimento. A vida é cruel pois vivemos e desaparecemos, deixando orfãos aqueles que gostam de nós.

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