12.11.09

Encenadores perturbados pela matéria épica*

Elisabete Matos estreou-se há dias como Cassandre na ópera "Les Troyens", de Berlioz, no Palau de les Arts Reina Sofía, em Valência. O maestro destes Troianos é Valery Gergiev e a encenação é de Carlus Padrissa (La Fura dels Baus). Hoje, 12 de Novembro, terá lugar a última récita.

©Tato Baeza / Palau de les Arts Reina Sofía
O Dissoluto Punito chamou a atenção para uma crítica do El País que menciona alguns aspectos negativos da encenação e enaltece a direcção de orquestra, a prestação da cantora Daniela Barcellona e a estupenda Casandra de Elisabete Matos. Entre várias outras críticas que encontrei, achei também interessante uma do The New York Times que diz o seguinte:


The most compelling of the three leading principals is Elisabete Matos, whose delivery of the prophetess Cassandra’s vain pronouncements had real urgency and was supported by radiant tone. I wish, however, that she had remained in the dignified flowing black dress she wore during Act 1 (costumes by Chu Uroz) instead of changing into pants with soccer-style kneepads for her scene with the Trojan women.


Adenda: Ler Bernardo Mariano no DN.



*Título roubado ao Raul.

8 comentários:

  1. Fico contente por a EM ter tido essas boas críticas.

    Eu gosto de encenações que tragam a história para mais perto de nós, ou que façam uma leitura mais rica do que a que seria imediata: não confundir com as que para fazer diferente nos distraem, traem libretista e compositor, e diminuem os cantores e os músicos.

    Também gosto deste teu novo sistema de destacar as citações num "painel".

    Bj.

    ResponderEliminar
  2. Fico muito contente com estas notícias, salvo aquela nota menos agradável do NYTimes.

    E também aprovo esta tua inovação.

    Bjs.

    ResponderEliminar
  3. Provavelmente a mudança de vestuário teve a ver com as exigências de uma "moderna" encenação...que deixou Berlioz aos saltos no túmulo.
    Mas isso já é norma....
    Importante é a prestação da nossa cantora, que honra o país.
    O mesmo país que não a conseguiu colocar em S.Carlos no papel de "Salome"...

    ResponderEliminar
  4. É engraçado nunca se comentar as fabulosas encenações completamente arruinadas pela péssima prestação musical ou mesmo pela mediocridade da música ou do libretto. Analfabetismo musical de quem critica? Maior exposição da parte cénica? ...

    Beijos.

    ResponderEliminar
  5. Miguel,
    Talvez seja menos comum, é certo, mas já li críticas que mencionavam precisamente a boa encenação e a má prestação dos intérpretes. Na minha opinião, se os cantores e a orquestra não estiverem à altura da música, não há encenação que salve a noite (o contrário já pode acontecer - o que fazia a Caballé em cena? de que tipo de encenação precisava ela? ou bastava-lhe estar lá e cantar? -, embora o ideal seja juntar tudo em um).

    ResponderEliminar
  6. Lembro-me de uma entrevista da Caballé em que ela falava de uma "Tosca". O encenador queria que ela tirasse as luvas como a Callas fazia e ela não conseguia, sentia-se ridícula. Telefonou-lhe e ela disse-lhe que era um disparate o encenador querer que a Caballé fizesse as coisas à maneira da Callas, tendo ela um corpo tão diferente.
    E deves lembrar-te, Miguel, da história do encenador que, em Covent Garden, recusou a Deborah Voigt porque ela não cabia no vestido. Agora ela já cabe, após dietas e uma operação, mas consta que a voz terá perdido o viço.

    Isto tudo porque considero que os encenadores ganharam um poder na ópera que lhes permite fazer tudo o que lhes dá na gana sem terem em conta a matéria-prima (não apenas os cantores, mas também os libretos, que nem sempre se prestam às suas fantasias).

    ResponderEliminar
  7. Anónimo25.11.09

    Uma das "missões" dos blogues é trazer para a leitura de todos nós aquilo que por ignorância do nosso jornalismo cultural se subtrai ao conhecimento do público em geral: uma cantora portuguesa viu-se questionada no seu nível artístico por quem gere o principal teatro de ópera de Portugal, enquanto lá fora á muito justamente reconhecida como uma grande cantora. Não será a Maria João Pires da ópera, mas é a única cantora portuguesa com uma carreira internacional digna desse nome desde o Tomás Alcaide. Relativamente a este blogue e ao do amigo Dissoluto eu estou muito agradecido pelo que me informam.
    Raul

    ResponderEliminar
  8. Infelizmente, caro Raul, há muitos temas que não despertam interesse na nossa comunicação social ou são simplesmente abordados pela rama depois de já ter passado o prazo de validade da notícia.
    Lembro-me de o Telejornal da RTP1 ter anunciado que Ileana Cotrubas vinha substituir uma outra cantora no Werther e de ter passado uma entrevista com ela.
    Nos tempos que correm, se nos atrevermos a assistir a um noticiário de uma hora, corremos o risco de ficar a saber tudo o que disse ou pensou o treinador do Estrela da Amadora, mais o que opinam os opinadores profissionais sobre o automóvel que embateu no poste, e raramente ouvimos uma única informação sobre o que se passa na Gulbenkian, na Casa da Música ou nos teatros.

    Agradeço o seu comentário, apesar da irregularidade que recentemente tem acompanhado a publicação neste blogue.

    ResponderEliminar