17.5.10

Matthias Goerne - "Schwanengesang"



O país pára para ver o último episódio da "Gabriela", quando há finais que envolvam a Selecção Nacional e para assistir à Conversa em Família. Imagino que seja essa a razão pela qual ainda há tantos bilhetes disponíveis para o último recital do ciclo de Schubert que Matthias Goerne trouxe à Gulbenkian. Hoje, antes de "Schwanengesang", poderemos ouvir também "An die ferne Geliebte", de Beethoven.
Schubert compôs as canções de "Schwanengesang" poucas semanas antes de falecer, em 1828, e não é certo que as entendesse como um ciclo, ao contrário de Viagem de Inverno e A Bela Moleira, cujos poemas seguem uma narrativa. No entanto, o conjunto das suas últimas canções foi publicado com o título Canto do Cisne e faz sentido apresentá-lo como se de um ciclo, ou de um testamento, se tratasse.
O Canto do Cisne termina* com um poema de Heinrich Heine, aqui na voz de Fischer-Dieskau, um dos mestres de Goerne:


O Sósia

A noite está calma, as ruas tranquilas,
Naquela casa morava o meu amor;
Há muito que ela abandonou a cidade,
Mas a casa permanece no seu lugar.

Está também ali um homem, fitando o alto
E torcendo as mãos no desespero da dor.
Que horror sinto ao ver o seu rosto -
A Lua revela-me o meu próprio vulto.

Oh! Meu sósia, pálido companheiro!
Por que imitas o desgosto de amor
Que me atormentou neste lugar,
Tantas noites, em tempos passados?

(Tradução de Maria Fernanda Cidrais, no programa de sala)

*"Die Taubenpost" é a última canção composta por Schubert, mas não integra a primeira edição de "Schwanengesang".

6 comentários:

  1. Gosto de Matthias Goerne mas não das canções de Schubert. (Des)gostos, eu sei.

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  2. Pois não gostas, Gi, mas foi muito bom. Goerne ofereceu uma interpretação ao seu melhor nível, digna do excelente aluno do melhor mestre do canto de Schubert. E o público rejubilou e teve direito a um extra, precisamente a última canção do compositor: Die Taubenpost. A Gulbenkian merece um agradecimento público por nos ter proporcionado este programa extraordinário: em três noites, os três ciclos de Schubert pelo que é, actualmente, o seu melhor intérprete.

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  3. J. Ildefonso.18.5.10

    Lembro-me dum outro concerto do Goerne na Gulbenkian talvez há dois anos atrás que foi absolutamente exemplar em todos os aspectos.

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  4. Também me lembro bem desse, J. Ildefonso.

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  5. A FCG é sempre merecedora de aplauso e agradecimento.

    Substitui amiúde quem tinha obrigação de oferecer espectáculos daquele nível, e não o faz (ou fez)...

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  6. José, (in)felizmente é assim.

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