Saúda, por mim, Abû Bakr,
Os queridos lugares de Silves
E diz-me se deles a saudade
É tão grande quanto a minha.
Saúda o Palácio das Varandas,
Da parte de quem nunca as esqueceu.
Morada de leões e de gazelas
Salas e sombras onde eu
Doce refúgio encontrava
Entre ancas opulentas
E tão estreitas cinturas.
Moças níveas e morenas
Atravessavam-me a alma
Como brancas espadas
Como lanças escuras.
Ai quantas noites fiquei,
Lá no remanso do rio,
Preso nos jogos do amor
Com a da pulseira curva,
Igual aos meandros da água
Enquanto o tempo passava...
E me servia de vinho:
O vinho do seu olhar,
Às vezes o do seu copo,
E outras vezes o da boca.
Tangia-me o alaúde
E eis que eu estremecia
Como se estivesse ouvindo
Tendões de colos cortados.
Mas se retirava o manto,
Grácil detalhe mostrando,
Era ramo de salgueiro
Que abria o seu botão
Para ostentar a flor.
Al-Mu'tamid (adaptação a partir de várias versões de Adalberto Alves)
Nos anos 1930 e 1940, um organismo comummente conhecido como Monumentos Nacionais reconstruía tão bem castelos medievais que eles até ficavam a parecer antigos e verdadeiros. Actualmente, requalifica-se e esteriliza-se, como em Alcobaça, Guimarães e Silves. A ASAE dos monumentos e dos centros históricos limpa-os, deslava-os, bota-lhes candeeiros bem bonitos, modernos e originais.
Castelo de Silves (© IGESPAR) |
O caso de Silves:
O interior do castelo era um jardim com árvores antigas, que foram cortadas para dar espaço a uma requalificação que levou anos a fazer-se. Quando as obras terminaram, o castelo teve direito a inauguração com a presença do senhor presidente da república. Ei-lo lá, acompanhado pela sua senhora.
Uma coisa correu bem: foram escavadas e postas a descoberto as ruínas do palácio almóada. Contudo, não teria sido necessário arrancar as pimenteiras-bastardas e os jacarandás que por lá abundavam. Nos seus lugares estão agora umas árvores jovens, em forma de pomar, numa espécie de recriação de um jardim árabe com cursos de água secos e pequenos lagos e fontes que não funcionam. Segundo consegui apurar, a água deveria estar em permanente circulação, não se tivesse dado o caso de a construção ter ficado defeituosa.
A cisterna da Moura não tem encanto nenhum. Foi "museologizada". Descemos as escadas para entrar nela e encontramos paredes e colunas cobertas de painéis informativos e fotografias que nos impedem de a ver e a despem de mistério.
Há por lá também uma cafetaria com uma grande esplanada, mas encerrada.
Queridos Monumentos Nacionais, voltai, que estais perdoados.
Que medo do futuro...e do presente ...que medo!
ResponderEliminarEu também fiquei algo decepcionado com o "vazio" do interior do castelo...
ResponderEliminarNa última vez que eu tinha entrado no castelo de Silves, já tinham cortado uma grande parte das árvores e o solo estava todo revolvido e decorriam as escavações na área do palácio almóada. Já tudo indicava que não sairia coisa boa da dita requalificação.
ResponderEliminarLindíssimo, o poema, Paulo. Não o merece "este" castelo, renovelado (eu vi agora as duas ligações e saiu-me o "renovelado" ao ver aquelas gentes). Como diz Miguel, medo e medo deste presente e deste futuro. Insonsos, incultos, fazem as coisas à sua medida: só para dar nas vistas.
ResponderEliminarHá gentes que causam novelos no estômago.
EliminarVoltem, ai voltem e levem-nos, ai levem-nos!
ResponderEliminarLindíssimo poema! Lindíssimo. E a foto, apesar dos apesares retratados e descritos no teu post, também é bem bonita.
Tudo, aliás neste post e neste blogue, a constratar com o resto: medonho! Medonho do medo do Miguel e do horrendo da bettips e do que eles são todos: hediondos!
A Camila toma todas as noites, antes de dormir, uma pomada que visa destruir os novelos de pêlo que, depois de tanta e consecutiva lambidela, se tendem a formar no estômago.
Creio bem que esta malta forma novelos quer no nosso estômago, quer por onde passa. É como os suga-energia. Está-lhes na natureza. Vai daí que a descoberta de uma pomada anti-novelo, ministrada com rigor, todos os dias, podia ser que os regenerasse e nos desse a nós algum sossego e sobretudo esperança num futuro mais risonho, já que exterminá-los ...
... não podemos. Quem nos governaria depois?
EliminarA foto é do IGESPAR, que eu não tinha a câmara comigo e nem me lembrei que podia utilizar um outro apetrecho que, para o efeito, também servia.
Que tristeza. Já há uns bons anos que não vou ao castelo de Silves, nem nunca visitei a cisterna. Tenho pena.
ResponderEliminarE já pensaram se alguém se lembra de requalificar o castelo de S. Jorge em Lisboa e arrancar-lhe as árvores todas?
Deixa, Gi. Ainda não atacaram o castelo de São Jorge mas os candeeiros oitocentistas do Terreiro do Paço já foram à vida. Agora estão lá uns muito mais bonitos.
EliminarEstive lá na Páscoa e, realmente, notei a diferença no local (não ia lá há anos). Realmente, estranhei o facto do café não estar a funcionar, mas também estava a cair uma granizada terrível.
ResponderEliminarO dia até estava de sol, mas a cafetaria está sempre fechada, até que alguém um dia talvez pegue nela.
EliminarMais um castelo esventrado, como infelizmente acontece com tanto do nosso património histórico.
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