4.5.12

Viagem a Tralalá #1


Wladimir Kaminer anda a conhecer o Alentejo, na companhia da Helena Araújo, e amanhã (5 de Maio) estará na Feira do Livro de Lisboa, na Praça Laranja, às 19h00, para apresentar "Viagem a Tralalá". O livro foi traduzido pela própria Helena e, obviamente, promete. A edição é da Tinta-da-china, integrada na Colecção de Literatura de Viagens dirigida por Carlos Vaz Marques.


A quem quiser conhecer melhor o autor e as histórias à volta da tradução do livro, aconselha-se uma visita ao 2 Dedos de Conversa, onde a Helena nos dá algumas pistas. A Berlinda.org tem uma entrevista ao autor e uma outra à sua tradutora e o Ípsilon publicou uma crónica de Wladimir Kaminer sobre a sua primeira vez em Lisboa.

E amanhã à noite, na Pensão Amor, ali ao Cais do Sodré, há Russendisko, uma festa que é uma especialidade de Kaminer. A não perder.

Kaminer com Helena Araújo

(Fotos tiradas do 2 Dedos de Conversa)

2.5.12

"Evocação de Silves"

Saúda, por mim, Abû Bakr,
Os queridos lugares de Silves
E diz-me se deles a saudade
É tão grande quanto a minha.
Saúda o Palácio das Varandas,
Da parte de quem nunca as esqueceu.
Morada de leões e de gazelas
Salas e sombras onde eu
Doce refúgio encontrava
Entre ancas opulentas
E tão estreitas cinturas.
Moças níveas e morenas
Atravessavam-me a alma
Como brancas espadas
Como lanças escuras.
Ai quantas noites fiquei,
Lá no remanso do rio,
Preso nos jogos do amor
Com a da pulseira curva,
Igual aos meandros da água
Enquanto o tempo passava...
E me servia de vinho:
O vinho do seu olhar,
Às vezes o do seu copo,
E outras vezes o da boca.
Tangia-me o alaúde
E eis que eu estremecia
Como se estivesse ouvindo
Tendões de colos cortados.
Mas se retirava o manto,
Grácil detalhe mostrando,
Era ramo de salgueiro
Que abria o seu botão
Para ostentar a flor.

Al-Mu'tamid (adaptação a partir de várias versões de Adalberto Alves)

Nos anos 1930 e 1940, um organismo comummente conhecido como Monumentos Nacionais reconstruía tão bem castelos medievais que eles até ficavam a parecer antigos e verdadeiros. Actualmente, requalifica-se e esteriliza-se, como em Alcobaça, Guimarães e Silves. A ASAE dos monumentos e dos centros históricos limpa-os, deslava-os, bota-lhes candeeiros bem bonitos, modernos e originais.

Castelo de Silves (© IGESPAR)


O caso de Silves:
O interior do castelo era um jardim com árvores antigas, que foram cortadas para dar espaço a uma requalificação que levou anos a fazer-se. Quando as obras terminaram, o castelo teve direito a inauguração com a presença do senhor presidente da república. Ei-lo lá, acompanhado pela sua senhora.
Uma coisa correu bem: foram escavadas e postas a descoberto as ruínas do palácio almóada. Contudo, não teria sido necessário arrancar as pimenteiras-bastardas e os jacarandás que por lá abundavam. Nos seus lugares estão agora umas árvores jovens, em forma de pomar, numa espécie de recriação de um jardim árabe com cursos de água secos e pequenos lagos e fontes que não funcionam. Segundo consegui apurar, a água deveria estar em permanente circulação, não se tivesse dado o caso de a construção ter ficado defeituosa.
A cisterna da Moura não tem encanto nenhum. Foi "museologizada". Descemos as escadas para entrar nela e encontramos paredes e colunas cobertas de painéis informativos e fotografias que nos impedem de a ver e a despem de mistério.
Há por lá também uma cafetaria com uma grande esplanada, mas encerrada.
Queridos Monumentos Nacionais, voltai, que estais perdoados.

No Youtube: um vídeo dá uma ideia do desconsolo e um outro mostra imagens da inauguração do castelo requalificado.

26.4.12

A Arte de Gruberová

Mão amiga mostrou-me este documentário sobre a arte de Edita Gruberová. Um documentário que passa por momentos da preparação para a "Lucrezia Borgia" de Barcelona e que nos leva também ao início da sua carreira na Checoslováquia e em Viena. Para os amantes de bel canto.

21.4.12

Parece-nos óbvio



“[...] Too many directors arrive at the opera house these days knowing little or nothing about music. Most come from the spoken theater, focus only on the text and don’t understand how to give the music its space. It may seem obvious to you and me, but a brilliant theater director does not automatically translate into a brilliant opera director. If I am a crack racecar driver, that doesn’t qualify me to be an ace pilot as well.

I sometimes feel that directors devise all these elaborate concepts because they don’t trust the power of the music and are terrified of boring the audience. Opera is a truly magical art, but the magic originates primarily in the music that we singers work so hard to communicate.” 

Jonas Kaufmann in The New York Times

14.4.12

Visitas

(Foto de Alfredo Rocha © TNSC)
Ter Artur Pizarro em Lisboa para tocar num dia o Rach 3 e no dia seguinte o Rach 1 foi um luxo que mais uma vez provou que ele é um pianista de excepção. E sempre que cá vem, como se isso fosse possível, parece que toca melhor que da vez anterior.
No Teatro de São Carlos, com a Orquestra Gulbenkian e Pedro Neves, e na Gulbenkian, com a Orquestra Sinfónica Portuguesa e Martin André, foram duas noites de festa. Como que inspiradas por Pizarro, ambas as orquestras se mostraram em grande forma nestas suas visitas. Uma iniciativa que deveria repetir-se na próxima temporada, digo eu. Foi um gesto bonito que, tendo continuidade, poderá servir também para aproximar os públicos das duas casas.

Novidade, para mim, foi Pedro Neves, que realiza actualmente um doutoramento na Universidade de Évora sobre as sinfonias de Joly Braga Santos. O ainda jovem maestro e a Orquestra Gulbenkian interpretaram com grande segurança e convicção a Sinfonia nº 4 de Braga Santos, uma obra pouco ouvida nas nossas salas de concerto, como, aliás, todas as outras daquele que é um dos compositores portugueses mais importantes do século XX. Aqui, pela Orquestra Nacional da Irlanda, com a direcção de Álvaro Cassuto:

12.4.12

Per molts anys!

La Superba faz hoje 79 aninhos. Celebremos com alguns excertos do documentário Caballé - Beyond Music e terminemos com a Donna Elvira que cantou em Lisboa, ainda muito jovem, em 1960. Parabéns, Montse!






10.4.12

Coisas extraordinárias

Sem saber como, aterrei numa página do Youtube que contém a gravação do Concerto nº 2 de Beethoven repartido pelas mãos de Maria João Pires e de Martha Argerich. O que inicialmente me pareceu uma brincadeira de gosto duvidoso revelou-se, afinal, uma novidade (para mim) extraordinária. Pires e Argerich juntas?


(Todas as fotos © Festival Chopin and his Europe)

Foi no dia 30 de Agosto de 2010, em Varsóvia. Maria João tocou o primeiro andamento e Martha tocou o segundo e o terceiro, num piano de época, acompanhadas pela Orquestra do Século XVIII com o maestro Frans Brüggen.



E ainda... a Sonata de Mozart para piano a quatro mãos, KV 381.
As duas. Juntas.