30.12.12

Artur Pizarro e Mozart

Entrar na noite (ou no dia) a ouvir Mozart por Artur Pizarro. Com a Orquestra Sinfónica da BBC, dirigida por Andrew Davis.

Concerto para Piano em Dó Maior K.503


Maria João Pires e Schubert



O novo disco de Maria João Pires, dedicado a Schubert, está para sair em Fevereiro de 2013. Todavia, para nos aguçar o apetite, a Deutsche Grammophon já deixa ouvir um pedacinho da Sonata nº 16.



(Se a ligação estiver avariada, é ir por aqui.)

27.12.12

In fernem Land

Voltamos ao "Lohengrin" de Jonas Kaufmann no Teatro alla Scala porque as postas do meio estão, até ver, disponíveis.


21.12.12

Paulo Ferreira em "La Wally"

Paulo Ferreira e Jennifer Maines em "La Wally"

Paulo Ferreira cantou recentemente o papel de Giuseppe Hagenbach (em "La Wally") no Tiroler Landestheater de Innsbruck, aonde regressará em breve no mesmo papel. Entretanto, Ferreira encontra-se no Pfalztheater de Kaiserslautern, onde se estreará em Janeiro como Ismaele em "Nabucco". Nos próximos tempos continuará a cantar essencialmente na Áustria e na Alemanha. Não tenho conhecimento de que esteja prevista uma aparição sua em Portugal.

Como o Mundo se calhar só acaba à meia-noite, o caríssimo público ainda deverá chegar a tempo de ouvir este pequeno excerto de "La Wally". Trata-se de uma gravação não editada, efectuada ao vivo no passado dia 21 de Novembro. Com Paulo Ferreira estava Jennifer Maines (Wally) e o maestro era Alexander Rumpf.


(Se a ligação estiver avariada, tente ir por aqui.)

19.12.12

Breaking News

Elisabete Matos como Elisabeth de Valois

No próximo dia 12 de Janeiro o palco do Teatro de São Carlos estará em festa. Elisabete Matos deu os primeiros passos da sua carreira no papel de Frasquita, da "Carmen", no Coliseu do Porto, já lá vão 25 anos. Depois foi estudar canto para Madrid e foi o que se viu, se bem que tenham passado vários anos até ter sido convidada para cantar papéis de relevo em Lisboa.
Agora, antes que Elisabete Matos parta para Viena, Los Angeles, Nápoles e Barcelona, poderemos celebrar as bodas de prata com ela, com os seus convidados, com a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Para já, pode-se avançar aqui que ouviremos cenas de algumas das óperas mais representativas da sua carreira. Para mais informações, por favor contacte a bilheteira.

16.12.12

Crises




Lá, como cá, os teatros estão em crise. Os famosos cortes sufocam as programações e o aumento do IVA no preço dos bilhetes afasta os espectadores, neste momento mais preocupados com o estômago que com a alimentação do espírito, deixando os concertos e as récitas de ópera com cada vez mais lugares vagos (bem sei que haverá outros motivos como a qualidade dos espectáculos, ou a falta dela).
Aqui ao lado, entretanto, joga-se com a imaginação. Em Oviedo opta-se pela reutilização e pela reconversão de cenários e de figurinos, de modo a poder apresentar óperas como "Turandot" sem grandes custos de produção. Em Barcelona foi lançada a iniciativa "Actuem pel Liceu", que apela ao apoio de todos os que possam ajudar, para que "a grande voz do Liceu não se apague". Alguns cantores do elenco de "Rusalka", a estrear brevemente, já decidiram participar na campanha pelo Liceu e ofereceram o cachet da última récita. Bonito gesto.
Por cá, continuamos à espera de notícias sobre a temporada de 2013. Haverá? Ou ninguém tem ideias?

15.12.12

A Música das Plantas



As plantas ouvem e também falam. O El País explica como é:
La obra consiste en un jardín de plantas que reaccionan a la presencia del público emitiendo sonidos. “Se trata de una bio-instalación, que invita a reflexionar sobre nuestro papel en relación a los demás seres vivos, basada en la sensibilidad de las plantas y en el aura electroestática de los seres humanos”, explican los artistas, que presentaron una de sus instalaciones bio-interactiva hace unos años en la última edición de la Bienal de Sevilla (Biacs). Para activar los sonidos hay que rozar suavemente las plantas y a veces la proximidad de una persona ya es suficiente para generar unas sonoridades, surgidas de una interfaz electrónica, que transforma las reacciones eléctricas de las plantas en sonidos.

12.12.12

Lisa della Casa e Galina Vishnevskaya

Chegaram ontem as notícias da razia. Desapareceram desta vida duas grandes cantoras do século XX: Lisa della Casa (93 anos) e Galina Vishnevskaya (86).

Lisa della Casa, nascida na Suíça, celebrizou-se como grande intérprete de Mozart e de Richard Strauss.

Em "Don Giovanni", com a direcção de Wilhelm Furtwängler:


Como Arabella, um dos grandes papéis da sua vida:



A cantora russa Galina Vishnevskaya abordou um reportório mais abrangente de soprano dramático. Verdi, Puccini e os Russos foram os seus compositores de eleição.

Canções e Danças da Morte, com Rostropovich, seu marido, ao piano:


10.12.12

Lohengrin alla Scala #2

In fernem Land (foto via Joaquim)

Quem não viu o "Lohengrin" do Scala pode fazê-lo agora, e depressa, antes que o retirem do circuito.

7.12.12

Kirsten Flagstad

Kirsten Flagstad como Brünnhilde (©)

Kirsten Flagstad deixou-nos a 7 de Dezembro de 1962, há exactamente cinquenta anos. Nasceu a 12 de Julho de 1895 em Hamar, na Noruega, e veio a ser a maior soprano wagneriana do século XX, se não de todos os tempos. Os seus pais, músicos profissionais, ter-se-ão apercebido do gosto pela música e do talento em potência da jovem Kirsten e, no dia do seu décimo aniversário, ofereceram-lhe a partitura de "Lohengrin". Elsa von Brabant foi o seu primeiro papel wagneriano, que estreou em Oslo em 1929.

Euch Lüften, em 1937



Em 1933, depois da sua primeira Isolde, em Oslo, foi chamada a cantar em Bayreuth, onde rapidamente passou de pequenos papéis para Sieglinde, ao lado da Brünnhilde de Frida Leider. Seguiu-se Nova Iorque. Em 1935, além de Sieglinde, Elsa e Elisabeth, Flagstad cantou Isolde, a sua primeira Brünnhilde e a sua primeira Kundry.

Ich sah das Kind, em 1951




Após o êxito extraordinário no Met, Flagstad estabeleceu-se como a grande intérprete de Brünnhilde, Isolde e Kundry e a sua carreira centrou-se, nos anos seguintes, principalmente nestes papéis, que cantou em várias cidades dos Estados Unidos e em Londres. Com Lauritz Melchior, Kirsten Flagstad fez o par wagneriano mais sensacional de todos os tempos: Isolda e Tristão, Brünnhilde e Siegfried, Elisabeth e Tannhäuser, Kundry e Parsifal.

O sink hernieder




Em 1941, Flagstad regressou dos Estados Unidos à Noruega, fazendo a sua entrada na Europa por Lisboa. Que se saiba, não cantou cá. A menos que tenha gritado Hojotoho ao passar à Torre de Belém.

5.12.12

Lohengrin alla Scala #1

Fotos de ensaio © Associated Press/Monika Rittershaus, La Scala (via)

A próxima sexta-feira, 7 de Dezembro, é dia de Sant'Ambrósio, logo, abre a nova temporada do Scala. Desta vez cabem as honras a "Lohengrin" e a Jonas Kaufmann, na companhia de Anja Harteros, René Pape, Tómas Tómasson, Evelyn Herlitzius, Zeljko Lucic e Daniel Barenboim. Quem tiver arte em casa pode ver a transmissão a partir das 19h15, quase em directo. Em Milão começa às 5 da tarde.

Jonas Kaufmann fala sobre "Lohengrin":


27.11.12

Gala de Ópera com Elisabete Matos



Domingo, 9 Dezembro | 19h00
Centro Cultural Vila Flor, Guimarães

A soprano Elisabete Matos associa-se a um espectáculo solidário cuja receita irá reverter a favor da nova Pediatria do Centro Hospitalar de São João.

(Bilheteira online)

A “Gala de Ópera com Elisabete Matos” é um espectáculo solidário com o projecto “Um Lugar pró Joãozinho” que visa erguer a nova Pediatria do Centro Hospitalar de São João com o apoio de donativos privados e que tem como Presidente da Comissão de Honra a Dra. Maria Cavaco Silva. A grande missão deste projecto é construir um Serviço Pediátrico, alicerçado em valores de rigor, compromisso, excelência, integridade, privacidade, partilha e acompanhamento, baluartes de uma Pediatria para o futuro. Ajudando a rasgar novos campos na capacidade do conhecimento para todas as crianças e famílias a quem a condição de estar doente ajudará também a uma consciência da vida e dos seus valores maiores. A soprano Elisabete Matos decidiu associar-se ao projecto e leva um conjunto de jovens solistas portugueses ao concerto que contará com a interpretação da Orquestra Académica da Universidade do Minho sob a batuta do maestro Vítor Matos. A “Gala de Ópera com Elisabete Matos” conta com o apoio da Câmara Municipal de Guimarães.

PROGRAMA
Puccini
Prelúdio Sinfónico (1871), Orquestra Académica da Universidade do Minho
Addio mio dolce amor, "Edgar" (ária de Fidelia), Elisabete Matos
O mio babbino caro, "Gianni Schicchi" (ária de Lauretta), Sofia Pinto
Mi chiamano Mimi, "La Bohème" (ária de Mimi), Dora Rodrigues
Donde lieta usci, "La Bohème" (ária de Mimi), Sofia Pinto
Quando men vo, "La Bohème" (ária de Musetta), Mónica Pais
Interlúdio, "Manon Lescaut" (4ª acto), Orquestra
Se comme voi, piccina io fossi, "Le Villi", Mónica Pais
Recondita armonia, "Tosca" (ária de Cavaradossi), Francisco Reis
Vissi d’arte, "Tosca" (ária de Tosca), Elisabete Matos
Mario, Mario, (até final de dueto), "Tosca" (dueto Tosca e Cavaradossi), Elisabete Matos / Francisco Reis
Tu che di gel sei cinta, "Turandot" (ária de Liù), Dora Rodrigues
In questa reggia, "Turandot" (ária de Turandot), Elisabete Matos
Tu, Tu, Tu, piccolo Iddio, "Madama Butterfly" (ária de Butterfly), Elisabete Matos

Orquestra Académica da Universidade do Minho
Vítor Matos maestro
Elisabete Matos, Dora Rodrigues, Mónica Pais, Sofia Pinto, Francisco Reis solistas

26.11.12

Quel jour de fête!

Magda Olivero, poucos dias antes de comemorar o aniversário nº 100 (©)

Ontem, em Milão, teve lugar a final do Concurso Lírico Magda Olivero. Carlos Cardoso cantou Ah! mes amis... Pour mon âme, de "La Fille du Régiment", e ficou em terceiro lugar. Bravo! Em primeiro e segundo lugares ficaram, respectivamente, Kiandra Howarth e Yeo Ji Won. Ouvejamo-lo!

24.11.12

Prodígios

Já me tinha resignado. Os Filarmónicos estavam em Lisboa e eu não ia ouvê-los; os bilhetes estavam esgotados, parecia, desde sempre. Mas eis que o telefone tocou e, qual prodígio como só a Helena sabe produzir, as coisas arranjaram-se de modo a que alguns dos melhores músicos do Mundo quisessem, na véspera do concerto na Gulbenkian, ir ouvir fados à Mesa de Frades e aí se deixassem encantar pelas melodias, pelas vozes fadistas e pela guitarra portuguesa de Ângelo Freire. Foi bonito ver um violinista, um violetista e um trompista discorrendo sobre as sensações que esta música estranha lhes causava e sobre a técnica de dedilhar seis pares de cordas. "Gosto muito de tocar aqui porque posso fazer experiências; no palco não", disse-lhes Ângelo Freire.



Foi mais ou menos assim que começou o concerto da Orquestra Filarmónica de Berlim. A obra chama-se Atmosphères e foi composta por Ligeti em 1961 e utilizada mais tarde por Kubrik em 2001: Odisseia no Espaço. Não será a peça mais expectável num concerto de tournée dos Berliner Philharmoniker, e no entanto faz todo o sentido apresentá-la como eles o fizeram. É uma peça atmosférica, como o nome indica, e a sua composição, conforme se lê no programa de sala, é "um exemplo perfeito da noção de Ligeti de uma música estática e auto-contida, que aliás tinha antecedentes na história da música, nomeadamente no Prelúdio do Lohengrin". Atmosphères termina num silêncio que Sir Simon manteve por alguns segundos, até entrarem os primeiros acordes de Lohengrin. A passagem de Ligeti para Wagner foi perfeita e arrebatadora.

Depois de Wagner ouviu-se Jeux, de Debussy, uma obra que não me fascina mas que foi magistralmente interpretada, e a primeira parte acabou em ambiente eufórico com a Suite nº 2 de Daphnis et Chloé, de Ravel. O bailado, composto para os Ballets Russes, foi estreado em Paris em 1912. A partir dele, Ravel compôs duas suites, a segunda das quais corresponde à cena final, culminando numa "voluptuosa celebração dionisíaca do amor físico". Vendo aqueles músicos a tocar esta peça, fiquei a pensar se Ravel não teria em mente uma coreografia para orquestra, tal é o efeito visual oferecido ao público ora pelos arcos dos naipes de cordas, ora pelos sopros, ora pela percussão, com o esfuziante Wieland Welzel nos tímpanos. Rattle e os Filarmónicos no seu melhor.

Na segunda parte regressou a contenção. A Renana é uma obra com características contemplativas e não será das sinfonias mais arrebatadoras do reportório. Depois do contagiante Ravel apetecia mais um Mahler ou um Bruckner que as delicadezas de Schumann. Talvez para a próxima, se a Fundação Gulbenkian nos fizer o jeito. Se não for ela, dificilmente voltaremos a ouver a melhor orquestra do Mundo em Lisboa.


(Fotografias de Michael Trippel em The Official Tour Weblog. Ide ver.)

20.11.12

O Jovem Van Dyck

Auto-retrato, Van Dyck, ca. 1615 (© Gemäldegalerie der Akademie der bildenen Künste, Viena)

Ora bem. Se puder ir a Madrid antes de 3 de Março de 2013, deverá não perder a exposição El joven Van Dyck no Museu do Prado.





18.11.12

Por Amor ao Piano

Um documentário de 2008 sobre Sequeira Costa, com a presença de alguns dos seus pupilos, entre os quais Artur Pizarro. Sem papas na língua, o Mestre fala do panorama musical, o português e não só.


17.11.12

Berliner Philharmoniker

“a música não é um luxo mas sim uma necessidade como o ar que respiramos e a água que bebemos”

Ainda a propósito da visita dos Filarmónicos, a Io informa que o Goethe-Institut organizou um programa com o tema "Berliner Philharmoniker em Lisboa – Conheça o projecto de uma orquestra excepcional". Começa já na segunda-feira. Para os detalhes, o melhor mesmo é ir aqui.

14.11.12

Os Filarmónicos


Faltam menos de dez dias para o concerto da Orquestra Filarmónica de Berlim com Sir Simon Rattle na Gulbenkian. O evento encontra-se esgotado, pois. Do programa constam obras de Ligeti, Wagner e Debussy, Daphnis et Chloé (Suite nº 2) de Ravel e a Renana de Schumann.

Um pequeno excerto da obra de Ravel, pelos Filarmónicos, mas dirigidos aqui por Yannick Nézet-Séguin:



Também no dia 23 de Novembro, mas ao meio-dia, talvez pensando em quem não conseguiu arranjar um lugarzinho para a noite, o Ensemble de Metais da Berliner Filarmoniker vai dar a Volta ao Mundo em 50 Minutos.

Amadeo, 125 anos

Amadeo de Souza-Cardoso com os amigos Domingos Rebelo, Emmérico Nunes, Manuel Bentes e José Pedro Cruz
numa paródia a "Los Borrachos", Paris, 1908

13.11.12

Ah! mes amis, quel jour de fête!

(©)

Há poucos dias teve lugar mais um concerto dos solistas da Academia do Teatro alla Scala, acompanhados pelo pianista Michele D'Elia. Carlos Cardoso cantou a ária de Tonio, Ah! mes amis, quel jour de fête!, de "La Fille du Régiment", tal como acabou de me chegar às mãos. Ei-la:

8.11.12

La Gioconda em Roma

Elisabete Matos, Ekaterina Semenchuk e Aquiles Machado

Roma é eterna. Já correu muita água sob as pontes que atravessam o Tibre desde que o vi nos últimos dias de Outubro, mas as pedras da Roma imperial lá estarão a contar a História de sempre e Santa Teresa continuará em êxtase. As cúpulas erguem-se imponentes, poderosas, cobrindo as pinturas e as talhas mais assombrosas que olhos humanos possam admirar. As cores de Roma, as praças de Roma, as fontes de Roma, os pinheiros de Roma, as esculturas de Michelangelo nas igrejas de Roma, Roma.


Havia quase vinte anos que não se ouvia "La Gioconda" em Roma. A última Gioconda tinha sido Ghena Dimitrova; agora foi a vez de Elisabete Matos, que já antes cantara o papel em Tóquio, aí interpretar a personagem da cantora de Veneza que se suicida para não cair nas mãos do pérfido Barnaba. Ponchielli compôs a música para o libreto de Tobia Gorrio (pseudónimo de Arrigo Boito) baseado numa obra de Victor Hugo. A sinopse pode ser lida aqui.

Madre! Enzo adorato! Ah come t'amo!

Como convém, a acção desenrola-se num crescendo dramático de grande intensidade, com uma descontracção visual pelo meio, característica da Grande Ópera à francesa - a Dança das Horas -, culminando no IV acto com o anúncio do suicídio por Gioconda e, finalmente, a sua morte.

Talvez deva começar por dizer que o espectáculo, no seu todo, foi um sucesso enorme. A encenação de Pier Luigi Pizzi é tradicional, com cenografia e guarda-roupa simples e pouco aparatosos, mas eficazes e evocativos das pontes, das gôndolas e das festas da Veneza do século XVII. A orquestra, dirigida por Roberto Abbado, sobrinho de Claudio, soou sempre muito bem, afinada e certinha. No entanto, uma ópera como "La Gioconda", que anuncia o verismo, parece-me pedir uma leitura menos rígida e um pouco mais de emoção.

Tive a oportunidade de assistir a duas das quatro récitas do elenco principal, que se apresentou muito equilibrado e com cantores de grande nível. Elisabetta Fiorillo, no papel de La Cieca, tem uma voz de contralto profunda e enorme; Ekaterina Semenchuk, mezzo-soprano russa, dispõe de um timbre quente e penetrante e compôs uma belíssima Laura; Roberto Scandiuzzi, um baixo de voz nobre, com vários Filippo II e Boris Godunov no currículo, é um Alvise imponente; o barítono Claudio Sgura foi o vil Barnaba, impressionante tanto vocal como cenicamente; Aquiles Machado pode não ter o tipo de voz ideal para interpretar Enzo Grimaldo, mas vestiu muito bem a personagem e esteve em grande forma; dos papéis secundários, destaque para Enrico Iori - que foi Filippo II no "Don Carlo" de Lisboa - como Zuane.
Terminemos em grande, com a nossa Gioconda, porque é um privilégio ver e ouvir Elisabete Matos num dos papéis maiores do reportório de soprano dramático. A Gioconda exige uma cantora que detenha graves potentes, agudos cintilantes e um registo médio seguro. Em troca, oferece-lhe dificuldades técnicas várias, principalmente no IV acto. E foi aqui que Elisabete Matos conseguiu exceder-se a si própria. Depois de um Suicidio arrepiante, deu-nos mais uma série de momentos brilhantes na cena com Enzo e Laura (imagem no topo) e assim continuou, crescendo até ao encontro final com Barnaba (Ora posso morir).

Volesti il mio corpo, demon maledetto? E il corpo ti do!
(Si trafigge nel cuore col pugnale.)


Numa época em que pairam nuvens negras sobre os teatros (as de lá menos negras que as nossas) e em que o futuro se mostra incerto, e tendo em conta que não haverá dinheiro para grandes produções no Teatro de São Carlos, se me deixassem mandar, esta Gioconda viria a Lisboa, nem que fosse em versão de concerto.

22.10.12

O Rach 1 de Artur Pizarro

No passado mês de Abril, Artur Pizarro visitou o Teatro de São Carlos e o Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian em dois dias consecutivos. Quem não teve a possibilidade de assistir aos concertos ao vivo pode agora ouvir o Rach 1, que Pizarro tocou com a Orquestra Sinfónica Portuguesa e Martin André na Gulbenkian. Espera-se que manbrighton nos ofereça um dia destes o Rach 3 com a Gulbenkian em São Carlos.



21.10.12

MAP

(Foto vista no Entre as brumas da memória)

É difícil eleger os melhores momentos do documentário de Ricardo Espírito Santo dedicado a Manuel António Pina, Um sítio onde pousar a cabeça. Escolho este, porque sim, e a fotografia, por causa dos gatos.
e ninguém perguntava nada
e ninguém falava alto



20.10.12

La Gioconda

A estreia será já no próximo dia 23 e as récitas seguintes virão a 25, 28 e 30 de Outubro. No palco, com Elisabete Matos, estarão Ekaterina Semenchuk (Laura), Roberto Scandiuzzi (Alvise), Elisabetta Fiorillo (La Cieca), Aquiles Machado (Enzo adorato), Claudio Sgura (Barnaba), Enrico Iori (Zuane) e outros. A encenação é de Pier Luigi Pizzi e o maestro é Roberto Abbado.


10.10.12

Ella mi fu rapita

Wiki)

Hoje comemora-se o 199º aniversário de Giuseppe Fortunino Francesco Verdi. Nem de propósito, acabou de vir parar-me às mãos este pedaço de um concerto da Accademia Teatro alla Scala com a participação de Carlos Cardoso.


(Se tiver dificuldades com o visionamento, tente seguir este link.)

9.10.12

Ver Vermeer em Roma

E quem for a Roma lá para o fim do mês, além da Gioconda de Elisabete Matos, pode ver também a exposição Vermeer. Il secolo d’oro dell’arte olandese, nas Scuderie del Quirinale.

La mostra delle Scuderie del Quirinale include, infatti, una preziosa selezione di opere di Johannes Vermeer - rarissime e distribuite nei musei di tutto il mondo, nessuna in Italia - e all'incirca cinquanta opere degli artisti olandesi suoi contemporanei.

Alegoria da Fé, de Vermeer, ca. 1670-72
(New York, The Metropolitan Museum of Art The Friedsam Collection,
lascito di Michael Friedsam, 1931 © Art Resource/Scala, Firenze)

24.9.12

Requiem aeternam

Da maratona só assisti ao final, o Requiem, ontem ao fim da tarde. Quis a sorte que no dia anterior tivesse falecido o tenor Aníbal Real, coralista do Teatro de São Carlos. Antes do início do concerto foi anunciado que o Teatro, e em especial o coro, dedicava o Requiem à memória do colega. Ouviu-se um minuto de absoluto silêncio.

A missa começou e, de imediato, o público sentiu a emoção que saía do coro e passava pelo seu maestro, pela orquestra e pelos solistas para a sala. Não foi apenas o Requiem de Mozart que se ouviu. Foi uma missa cantada e tocada com muita generosidade para o colega desaparecido na véspera. E isso deu ao concerto de ontem um carácter especial. À memória do Aníbal.

Foto de ensaio ©

Requiem, Kv. 626

Soprano Dora Rodrigues
Meio-soprano Patrícia Quinta
Tenor Bruno Almeida
Barítono Jorge Martins

Direcção musical Giovanni Andreoli

Coro do Teatro Nacional de São Carlos
Orquestra Sinfónica Portuguesa

21.9.12

Lisboa alegre e bem-disposta

Acontecem tantas coisas em Lisboa este fim-de-semana que uma pessoa não dá vazão. Talvez só em Berlim haja mais e melhores escolhas, Helena.
  • Começa com a Reunião do Conselho de Estado;
  • Depois é a Maratona Mozart: quarenta e uma sinfonias e o Requiem, no Domingo, com Dora Rodrigues, Patrícia Quinta, Bruno Almeida e Jorge Martins;
  • Mais Páris e Helena, de Gluck, no São Luiz, com Carmen Matos, Marina Pacheco, Sara Carolina Marques e Sónia Alcobaça. Os bilhetes custam €13 e €17;
  • E ainda o Queer Lisboa, que inaugura logo à noite no São Jorge e festeja a seguir no Ritz Clube.

Sónia Alcobaça em Páris e Helena

18.9.12

Paul McCreesh na Orquestra Gulbenkian



A Fundação Calouste Gulbenkian anunciou há dias que Paul McCreesh será o Maestro Titular da Orquestra a partir da temporada de 2013/14, sucedendo a Lawrence Foster.

McCreesh tornou-se conhecido por cá com a apresentação de obras barrocas e clássicas no CCB, principalmente de Handel e Gluck, com o seu Gabrieli Consort & Players.



 Paul McCreesh com a Orquestra Sinfónica da Rádio Dinamarquesa:


13.9.12

Reabre o Fórum Luísa Todi

As obras do Fórum Municipal Luísa Todi chegaram ao fim e a cerimónia de reabertura, no dia 15 de Setembro, vai ter direito a um recital de Elisabete Matos, acompanhada ao piano por Nuno Vieira de Almeida. João Pereira Bastos é o director artístico do Fórum.


9.9.12

Amor de Poeta




Os últimos anos de Robert e Clara Schumann, juntos, foram vividos nesta casa da Bilker Straße, em Düsseldorf.
Por essa altura, a saúde de Schumann ia-se degradando a olhos vistos e as alucinações começavam a ser frequentes, levando o compositor a tentar o suicídio atirando-se de uma ponte sobre o Reno. Passados poucos dias foi levado para um hospital psiquiátrico perto de Bona, onde acabou por morrer cerca de dois anos mais tarde, em 1856.

O aspecto da margem esquerda do Reno, que passa por Düsseldorf enrolado em meandros, não devia ser muito diferente do actual. Ainda por lá pastam rebanhos de ovelhas e o ar quase campestre recorda-nos que o nome da cidade lhe foi muito bem posto: Aldeia de Düssel, sendo Düssel um afluente do Reno que ali desemboca no grande rio.

(As ovelhas vêem-se mal mas estão precisamente no centro da fotografia)































Não longe da casa de Schumann, mas agora na Bolkerstraße, encontramos a casa onde nasceu Heinrich Heine, autor dos poemas seleccionados pelo compositor para o ciclo Dichterliebe. Apesar de contemporâneos (Heine era mais velho mas morreu poucos meses antes de Schumann), o poeta e o compositor não se encontraram em Düsseldorf, uma vez que nessa época Heine vivia um prolongado exílio em Paris. Contudo, das mãos de ambos e à vez, saiu um dos mais celebrados ciclos para canto e piano. (Poemas com traduções em Inglês)



 Dichterliebe, por Fritz Wunderlich e Hubert Giesen, em Salzburgo (1965):


__________________________________________________________________________

Placa encontrada no pátio da casa de Schumann

Nota: As fotografias são manhosas; foram tiradas a correr e com o que estava à mão.

6.9.12

Parabéns, Elisabete

Pormenor do camarim dedicado a Elisabete Matos na exposição Noites em São Carlos (foto © Sofia de Araújo)





























A nossa Matos faz hoje aninhos e comemora-os na Coruña porque no próximo Sábado canta a Abigaille ao lado do Nabucco de Leo Nucci. Parabéns, Elisabete. E toi toi tois.

No Met foi assim:


4.9.12

Bruckner em Lisboa

© Wikipedia

Em dia de aniversário de Anton Bruckner (1824-1896), vem a calhar o concerto de Sergiu Celibidache com a Orquestra Filarmónica de Munique no Coliseu dos Recreios, em 1994, quando Lisboa foi Capital Europeia da Cultura.

28.8.12

Para a rentrée


A Deutsche Grammophon já nos deixa ouvir um pedacinho do novo disco que Maria João Pires gravou com Claudio Abbado e a Orchestra Mozart e que sairá em Setembro. São os concertos nº 20 e 27 de Mozart, claro.


5.8.12

Grande Reportagem: Noites em São Carlos

Interrompe-se aqui o intervalo para dar conta do que se passa no Teatro Nacional de São Carlos até ao próximo dia 4 de Setembro: a exposição Noites em São Carlos. Se gosta destas coisas do teatro, não a perca. O preço máximo é de 3€ por pessoa e dá-lhe acesso a subir ao palco e a visitar os bastidores e os camarins.
A exposição mostra-nos uma pequena parte do precioso espólio do Teatro. Ora veja:

Traje de cena usado por Alfredo Kraus como Duque de Mântua (1979)
Cortinas, adereços e trajes de cena da Aida de 1950
Khnum


No palco do Teatro está montada uma produção de "Madama Butterfly", com o guarda-roupa esplendoroso que o figurinista Hugo Manoel seleccionou na casa Hayashi Kimono, em Tóquio, para a temporada de 1976/77:









Os camarins estão dedicados aos grandes cantores portugueses. Pode ver de perto vestidos que Elisabete Matos usou no Don Carlo, trajes de cena e outros objectos de Tomaz Alcaide, entre outras relíquias do passado:

Lohengrin (António de Andrade)
Don Giovanni (Francisco de Andrade)
Papageno (Álvaro Malta - 1981/82)
Rosina (Maria Cristina de Castro - 1957/58)


O que aqui está é uma pequena amostra do que o caro leitor pode, e deve, ir ver na exposição do Teatro de São Carlos. Não se esqueça de ir espreitar atrás do palco


e de subir ao Salão Nobre. Termine a sua visita na colecção de caricaturas de cantores célebres, como esta de Birgit Nilsson por Zé Manel:



E agora, para finalizar, o momento Caras: Asta-Rose Alcaide, viúva de Tomaz Alcaide, à conversa com Elvira Ferreira no Largo de São Carlos.